"uma pessoa quer sempre mais"

mike stewart andava de um lado para o outro, observando as ondas e as nuances que elas criavam. apontava para os trajectos das correntes e o efeito das enormes espumas que varriam o cano da praia norte: 15 a 18 pés hawaianos afiança. E se ele o dizia...
O mar estava assombroso como está muitas vezes nesta praia e os carros chegavam sucessivamente para testemunhar aquele espectaculo. As ondas contorciam-se em camara lenta e daquele ponto mais elevado desenhavam-se como cartoons face à impossibilidade da percepção real do seu tamanho. Era um optimo dia para inspirar frases pomposas sobre a magnificencia do oceano e a pequenez do homem, não para surfar que raios.

Eis que porkito sugere que entrem pela ponta do promontorio saltando directamente para o outside. Entre o riso e a incredulidade geral ele e o faustino descem em frente ao forte para encontrar o tal sítio para o fazer. Completamente atónito pergunto ao trovão se ele está a brincar ou a falar a sério. Ele responde-me com um episódio passado no taiti envolvendo tubarões, o faustino ensanguentado e o porkito as gargalhadas. ok é serio.
Abandonados os primeiros intentos suicidas fica decidido que vão entrar a meio da praia. O nervosismo instala-se e todos percebem que seja qual for o desfecho é historia que se vai presenciar. O mar com mais de 5 metros não pára de bombar desenfreadamente cobrindo uma larga porção do pico com um turbilhão de espuma permanente. "nem vamos conseguir entrar" diz o porkito. Chegados ao centro da praia uma correnteza fluvial leva-os quase instantaneamente para o outside.

Visto da praia o mar parece um inferno interminável de espuma. As ondas quase imperceptíveis surgem apenas quando um lip enorme tapa o horizonte apenas para se desfazer em mais espuma. Quebra-cocos de 3 metros batem interminavelmente no inside desfazendo-se em redemoinhos e correntes assassinas. A possibilidade de alguém ficar ali preso é real e assustadora.
Uma serie enorme desenha-se no horizonte e dirige-se exactamente para aquele sítio. Porkito decide ir numa onda intermédia para escapar a porrada mais que evidente e apanha uma direita. A onda leva-o com uma velocidade impressionante revelando a propria natureza distinta do mar nesse dia: grosso, mastodontico.
Entretanto porkito caminha na praia convencido que o faustino já saiu e ninguém sabe dele até que olhares prescutadores revelam-no como um ponto minusculo a remar em direcção ao cantinho. Uma onda enorme vem na sua direcção e ele rema com todas as suas forças para entrar mas ela passa por baixo dele. Tentando-se manter num ponto seguro ele senta-se bem no outside. Uma nova onda dirige-se para na sua direcção e ele está no sitio certo, rema com todas as forças mas o resultado é o mesmo. Neste momento percebe-se algo que só a experiência poderia revelar. É praticamente impossível entrar a remar para ondas deste calibre. As massas oceanicas são demasiado rápidas, demasiado massudas.

O faustino quer sair dali mas não sabe bem como o fazer. O mar ganha um aspecto tenebroso e séries intermináveis de ondas continuam a surgir no horizonte. Uma ou outra quebra mais para fora e o dia parece ganhar ainda mais tamanho com a subida da maré. Ele decide remar para dentro para apanhar uma mais pequena, expondo-se aos sets enormes que não paravam de aparecer. Aparece uma onda mais pequena, uns 3 ou 4 metros e ele dirige-se a ela com toda a convicção. Consegue entrar nela e aos saltos faz o drop. Com a velocidade enorme que a onda gera o rail começa a arrastar agua e a espuma acaba por apanha-lo. Está a salvo e toda a gente respira de alívio. O porkito pergunta-me se eu estava nervoso e eu respondo que sim. "eu também fico nervoso" diz, e remata em jeito de justificação: "mas depois uma pessoa quer sempre mais."

6 comentários:

  1. Lindo relato, merecedor de uma ilustração! Fiquei com água na boca a imaginar todo este cenário. . .

    Abraçoo

    Madalenoo

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  2. ainda me enervo a lembrar ehehe
    eles tem tanto de louco como de experientes a ler o mar!!!!

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  3. Relato impressionante, ainda mais estando eu na praia sul a ver as series a entrar e a comentar que na praia norte devia estar o inferno na terra

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  4. O adjectivo "épico" foi criado para coisas destas.

    Mr Charles

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